sexta-feira, 12 de março de 2010

Escrevi numa Folha que ficou em Branco



[ ... vivia-se na prática dos gestos por treinar. Respirava-se por debaixo de àgua, enquanto a banheira inchia até ao transbordo. Gostavamos de contar em contagem decrescente até nos acabar o oxigênio nos pulmões e os nosso corpos se sucubiarem à ruptura. Almas sem fôlego! Alma tonta e descabida! Precorriam se as ruas dos bairros deshabitados da nossa cidade batendo em porta sim porta não fugindo frenéticamente até ao parque, já só com o mesmo ar em nós como quando dentro da banheira. Atirava-me à relva aparada num descuido coreografado...hahaha...só via o céu a rodar em torno da minha cabeça leve. Tu, preocupavas-te demasiadamente com a roupa...que deixamos a lavar da tarde anterior. Dizia-te, enquanto me dizias ao mesmo tempo, do quão ridículos e dementes pareciamos diante aquele casal idoso, até então instalados harmoniosamente, mesmo ali ao pé, sobre a mesma manta lavada de todos os outros dias. Costumava acabar tudo bem, ou a tomar-se um gelado ou então a assobiar-se uma melodia que nos parecesse flutuante...
... acordava-se na transpiração das utopias. Sobressaltava-se no desalento, enquanto as torradas se faziam. Vislumbrava-se a mesma paisagem do lado de dentro da mesma janela enrugada, consumida pela desistência e pela madrasta monotonia! Apanhava as palavras enquanto o envelope arejava, selado e seco. O estendal já nem suportava o peso da consciência que nunca conhecera... A cafeteira apagava-se, a porta da frente fechava-se sem que a casa ressoasse...

... nos dias de hoje, as reticências deixam os pensamentos a flutuarem num eco prolongado... ]

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