sábado, 19 de novembro de 2011

Num Abraço Caseiro



[ Há sempre um raio de ânimo quando entro pela porta da frente, à espreita, desde ontem, para me atropelar como se fosse a primeira vez. Como todos os outros ontens antes! Paixão inocente e doce. Paixão desmedida e dormente!
A ideia que mais me invade, nestes dias, é a de como caio, cego no mesmo choque frontal dia-após-dia. Venho ainda agarrado à pele de ontem que nem dou por mim a preencher-te, nos teus tempos livres, e quando realmente volto a ser, reparo que estou diante uma porta velha e enrugada, à tua espera...como tem acontecido por estes últimos tempos. Limito-me a escreve outro bilhete para somar ao papel de parede que se acumulou! Num desses quadrados fluorescentes escrevi que cada um era uma percentagem da minha paciência que ali deixava...um bocado de mim que ali perdia. Apercebi me pela tua voz coerente que ainda não o tinhas encontrado para poder ler para sempre!...
Naquele dia não estavas! O raio rasgava o céu em vários pedaços de temor e a porta experiente havia-se sucumbido ao cansaço. Mas não foi a única matéria a morrer...tinhas a cortina rendilhada cosida a meio...o chão estava numa poça...sabia que não voltarias mais quando dei pela falta do pequeno bilhete...! ]

[ Finalmente tornou-se maior até que o deste razão. ]

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Encontro-te, por fim


[ Foi com surpresa! Tantas vezes que te visitei ao fim da tarde, mais perto da noite, debaixo da camada escura e espessa, que adorávamos, sem nunca te ver à lupa. Julgava saber mais de ti que de mim. Reconheço agora que a falsa ideia de te conhecer esvazia-me. Sim! Ainda bem que descobri-te hoje! Depois de todas aqueles horas ao sabor das tuas mentiras, ou verdades escondidas (provavelmente será mais isso). Nunca me chocou tanto estranhar-te! Desculpa, é só uma confissão confidente, escusas de tentar me dissolver nos teus temperamentos! Intolerante! Imperdoável mecanismo imperfeito!...

Davas-me conforto depois dos dias duros debaixo do desânimo, desalmado e débil. Procurava as partes lisas na esquadria do teu rosto! Huh, nunca me cansava ouvi-te...nunca...quase nunca. É impressionante como conseguias contar me as mesmas historias vezes sem conta. Contava-te isso às vezes, mas continuavas a ocultar-me de ti! Teimo em lembrar-me, na cegueira surda dos meus passos, do quão pequeno pareço a teu lado!...Ponto pequeno e irregular que se mistura com tudo...
Foi com surpresa! Recebeste me doutra cor! Algo mais pastel, lavada, interdita. Hoje adormeceste-me com um pêndulo magnético, senti uma atracção insólita, aberta e virgem. Comecei a notar em espaços mortos que nunca me deste a saber . Acordei-te comigo a calcar-te a geografia! Recebi-te doutra cor! O teu carácter tinha muitas ruas e no fundo duma rua estreita e delgada, senti-te uma ruga...depois outra...outra...mais adiante outra...e ainda outra...e outra...e outra...e outra... e com cada uma devolveste-me a esperança!...
Temos tanto para conversar amanhã, espera só até te contar esta novidade... ]

[ Foi com surpresa que hoje te vi outra parte! ]

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Sou Chuva, Sou menos!



[ Alguém tinha entrado momentos antes dele. Fechara a porta sobre si, como se vivesse de mantos sobrepostos, até desaparecer! Coleccionava a energia das colisões universais, dizia-me ele, enquanto-o consegui seguir, no encalço opaco que curiosamente largara pelo caminho. Só soube que existia quando ouvi o som descalço que o dissipava! Ali!
"Mundo morto e menor, como é que Deus nos deu tanta liberdade condicional?", lia-se na parede gasta do pensamento. Momentos mudos assombravam-lhe o oxigénio, até se parecer translúcido. Aparentemente queria que a Humanidade soubesse que tudo não passará dum mero esvaziar de sensações para nos fazer acordar no descarrilar de nós próprios...
Alguém havia entrado no exacto momento do desfecho. Continuava encarcerado no cubículo onde se abrigara desde que se desfez. E no aperto de mão com a claustrofobia vi o aglomerado de frascos fluorescentes onde, de repente, tudo parecia se enquadrar, ali mesmo!...Era a matéria que mantinham a máquina do universo em movimento, e foi então que uma se extingui e... tudo tremeu!... ]

[ Deus, sou Teu frasco! ]

domingo, 13 de novembro de 2011

Deixa-se Assim



[ Já ia com metade da estrada e continuava a olhar pelo retrovisor baço! Ainda tão agarrado à perspectiva afunilada que se dissipava no piso imperdoável que lhe pertencia. Mesmo de mãos dadas com os máximos, encandeava-lhe a ideia de se despistar com o velho, de novo! Sempre preferiu acabar com o corpo abraçado à saudade e não com o cadáver abraçado à árvore inocente, a mesma de sempre, com aquele aspecto desajeitado que o lembrava do que acabara de deixar ser! Esforça-se por voltar ao volante antes que o espelho retrovisor se abra numa clareira e a metade que não conhecia tocasse na metade que julgou esquecida...até dar consigo ainda com o motor ao relanti...
Mudou de estação radiofónica até encontrar o locutor com a voz da sua consciência. O escuro que se misturava com a pintura da viatura causava lhe atrito, o que lhe deu tempo suficiente para achar a bem-dita estação, entretanto de outono. Sabia que o tinha criado uma vez numa outra viagem que fizera mergulhado na noite, e que já o sabia de cór... voz vincada que gostava de não gostar! ]

[ Com a janela de condutor entre-aberta, memorizava o caminho pela pressão atmosférica. ]

Fuga Fugaz



[ Esta manhã, entre um breve lapso de memória e a sensação quente de novidade, abracei te. Abracei te, limpo de mim, com a pele morna entre os lençóis que deixei para trás. Huh! Como é cada vez mais forte o aroma que me desfigura de passados perdidos. Hoje é outro hoje, com menos uma lufada de ser e um enorme sentido de querer-se ser! Ora, se não me encontro ainda sobre o colchão húmido do deserto que pensei voltar a encontrar quando regressasse a mim, então algo explodiu e a certeza de me estar a ver confirma-se! Peguei fogo ao meu corpo para saborear os invernos descampados, vividos ao abrigo desta tenda que teima em cobrir me os ossos, já secos de mim. Desfiz me em imensos diferentes tom de calor e luz, até ao momento em que me conheci, precisamente na altura em que fechei a porta atrás de mim! Máquina suja e esquecida, num canto perigoso desta casa de campo que construí em mim. Máquina surda pela mentira, como é que te deixei ligar, novamente?! Tive de me entranhar com a existência e envolver me com a magnificência do agradável... ]
[ ...tudo que se perde só se mostra nunca nos ter abandonado! Um bafo ardente, um tenro calor que se colhe, ou o simples estalar minimal da expectativa...perde-se...perde-se... até ser manhã...esta manhã! ]