terça-feira, 23 de março de 2010

b-12



[ Numa sala a rechear-se, alma a alma, sóbrio murmúrio emparalhado, expectativas enrolam-se na atmosfêra dentro da côr de cór do entusiasmo. Acima duma vista aérea, há um preenchimento axedrezado de lugures soltos e inóspitos, aqui, ali, além, àquem...mas eu...eu...sobrevivo no ínfimo pedaço desta sala, ainda de espera. Este contágio solto, vidrado e denso da anticipação dormente começa a desfigurar o coração. Trocam-se impressões digitais entre o casal terno que ocupa os bancos na minha fila! Soltam-se gargalhadas desafinadas! E eu...eu...marco outra percussão, acústico ritmo, sem que repercuta. Os dedos ásperos das mãos mornas tencionam-se à fricção e, depois, de repente...o palco transforma-se em luz! ]

[ ... ]

segunda-feira, 22 de março de 2010

Adormecia em Tardes de Verão



[... fez passerelle antes de ler o letreiro...retirou-se,inseguro...e...depois...desinfectou as mãos das nódoas experientes. (Tinha tempo para tudo e mais alguma coisa)... vincando-se, imaculado! Carregava nas malas, duas, revestidas com os padrões pseudo-arte nova, novas desta nova arte, responsibilidades acumuladas e algumas fotografias manchadas pelo suor surdo da infância. Sentou-se, satisfeito com o conto que o seu relógio baço o contava, num banco de linhas frias, tubulares e melancôlicas. Sorria! Sorria no vazio de aguardar respostas a perguntas que conspirava, por entre os dedos gastos, nele... O meu banco conceptualizado a régua e esquadro, imponente e sombrio estava fixo à terra, 4 ou 5 metros da dele. As peças da vida dele reuniam-se ali, àquilo, tornando as minhas numa aragem inerte...inerte...inerte e aos saluços! Dei por mim resumido a ele, fiz-me nele sem que ele se fizesse em nós, numa vida dançada e dele. Os seus quase 70 aniversários romperam a camada naive da minha existência... ajeitava-se ao toque dum assobio, mas as minhas mãos continuavam-se a desfazerem no que é sujo... ]

[ Passo as lentes dos óculos pela roupa transparente...e reinvento-me! ]

domingo, 14 de março de 2010

Simulei-nos, ao Ouvido



[ Descrevia a noite plana num plano panorâmico! Sim, haviam corpos a baloiçarem em nosso redor, meu próprio pendurava se na brisa, ártica. Ao todo, havia cabelo ao vento e arrepios em tudo. Jornadas entre destinos em câmara lenta. Irrito-me com o modo como abafo luminiscência, a liberdade de expressão de um relato à meia luz. Segurei no holofote até que o aperto me cortasse a circulação nas mãos...e...ao fim de contas...tudo não passava dum gabinete claustrofóbico e húmido debaixo do cartaz estrelado de cima!
Lamento até ao infinito e depois disso! Preciso de voltar a ligar o moderador à ficha pálida. Recai sobre mim conceptualizar a comunicação, conscientemente. Infelizmente é preciso o mundo acabar antes que nós o possamos ressuscitar! Como se reanima algo que ainda não atravessou a barreira da existência?! Concentrar-me-ei em antecipar me ao caos exactamente por ter o conhecimento e faculdade que parte de mim. Banalizo sinais que me envio, sem sineta...

Preciso de tirar férias do meu corpo... ]


[ 21 ]

sábado, 13 de março de 2010

Sozinho numa Mesa para Dois



[ Estes registos! Do que valem, e vão valendo, tanta exposição se fica arquivado sem consulta? Dedica-se vontade e comunicação que não chega a ser canalizada, esforços são tomados praticamente para serem lançados ao abismo, ao infinito virtual duma internet em expansão supersónica!
Aluguei este apartamento T1, que afinal de contas não passa dum espaço sem soalhos com uma cozinha que vale por dois. Cozinho os ingredientes, já com a mesa posta. Um prato sobre um guardanapo rasgado ao meio. Um garfo polido. Uma faca de dentes gastos e rasos. Um copo, basso e rachado pela injúria. Hoje, nem sopa haverá...
Passa-se o tempo no laboratório químico do coração, do olho e da língua...deshidratados, em busca duma bandeira do outro lado da muralha, inhóspida. Tenho um frasco para cada submissão que deixo, com um rótulo áspero, onde escrevo o título e guardo cada coisa que consigo absorver desse post. A estante está recheada de frascos, uns ao abandono, outros com fragmentos recolhidos. O curioso é a centelha dessas ínfimas particulas, o brilho atómico! É simplesmente o pouco que me ascende o quarto (sala), deixando me sem conseguir dormir. Estou vos gratos...

Isto é um pequeno bilhete, que resgatei do bolso roto das calças. Ao menos vou exercitando a gramática enquanto viajo à fase, adormecida, que era... ]

[ Comi um gelado para a sobremesa ]

sexta-feira, 12 de março de 2010

Escrevi numa Folha que ficou em Branco



[ ... vivia-se na prática dos gestos por treinar. Respirava-se por debaixo de àgua, enquanto a banheira inchia até ao transbordo. Gostavamos de contar em contagem decrescente até nos acabar o oxigênio nos pulmões e os nosso corpos se sucubiarem à ruptura. Almas sem fôlego! Alma tonta e descabida! Precorriam se as ruas dos bairros deshabitados da nossa cidade batendo em porta sim porta não fugindo frenéticamente até ao parque, já só com o mesmo ar em nós como quando dentro da banheira. Atirava-me à relva aparada num descuido coreografado...hahaha...só via o céu a rodar em torno da minha cabeça leve. Tu, preocupavas-te demasiadamente com a roupa...que deixamos a lavar da tarde anterior. Dizia-te, enquanto me dizias ao mesmo tempo, do quão ridículos e dementes pareciamos diante aquele casal idoso, até então instalados harmoniosamente, mesmo ali ao pé, sobre a mesma manta lavada de todos os outros dias. Costumava acabar tudo bem, ou a tomar-se um gelado ou então a assobiar-se uma melodia que nos parecesse flutuante...
... acordava-se na transpiração das utopias. Sobressaltava-se no desalento, enquanto as torradas se faziam. Vislumbrava-se a mesma paisagem do lado de dentro da mesma janela enrugada, consumida pela desistência e pela madrasta monotonia! Apanhava as palavras enquanto o envelope arejava, selado e seco. O estendal já nem suportava o peso da consciência que nunca conhecera... A cafeteira apagava-se, a porta da frente fechava-se sem que a casa ressoasse...

... nos dias de hoje, as reticências deixam os pensamentos a flutuarem num eco prolongado... ]

Ser-se Coragem


[ BREVEMENTE ]

Caiu Saraiva (ao longe)



[ Foi dificil saber intrepretar todo aquele teatro. Qual Hamlet?! Hamlet sem Shakespeare! Uma peça num escalão só por si. Acho que nunca assisti a nenhuma encenação ao ar livre, havia tempos de monólogo, sátira ou apenas um mundo de alguém prestes a ruir sobre nós. Exclamavam-se teorias, desabafos sem consciência, enquanto tudo rodopiava ao cair do cigarro. Eu compreendia a magnitude a cada desenlace frio, quase repetitivo. Recordo me agora, por breves segundos, que nada daquilo vai ser lembrado pela única figura/figurante a pisar aquele palco, raso. Exercitou-se a imaginação num campo magnético cómico e absurdo. Entre um gole seco numa bebida branca e um bafo a nicotina, com caramelo, movimentos descomandados marcavam o tango solitário sobre o embrulho a negrito que envolvia a personagem. Conseguia-se identificar luz ambiente, um M vincado a amarelo a saltar duma parede rugosa, espessa e inconformada! Sinto agora, e na altura, que estava a ser psicólogo dum paciente impaciente e débil o que me deu prazer. Ouvir aquela voz cercada pela alcoolémia, tão surda...
Lamento não ter guardado senão estas recordações. O bilhete, rasgado, bem, esse eu reciclei-o. ]

[ Se alguém levantar 4 horas de ferro, em cada dia, sucessivamente, faz de nós uns bichos, com que é que nos temos que preocupar, hein?! ]

[ Tudo teve um fim... inesperado, mas feliz. ]

[ E no segundo fim, nasceu um barco, de papel e com duas velas ]

terça-feira, 9 de março de 2010

Telefonema à Janela



[ Não é a quantidade de linhas ou parágrafos que escrevemos, mas sim a grandeza do pouco que dizemos! ]

Atmosférico

[ Palavras semi-soltas. ]

sábado, 6 de março de 2010

Influente(mente)



[ Vinhamos, de longe, vestidos dumas personas que erguiamos a cada parágrafo, enquanto o cosia-mos na ambiência abafada que nos circundava. Ai, como tudo era tão fluído, ficcional, despido da realidade, onde muitas das vezes encontravamo-nos demasiadamente disfarçados nos heterónimos heroicos! A dada altura, falava-mos com a voz, prepotente, que já não sabia-mos abandonar. Construiu-se, ali, um coliseu, em movimento pleno, dum pressuposto que se parte de sonhos ambiciosamente alcançáveis, por virtude, ao abrigo da visão atenta de grandezas e poder para atrair atenções! Supremos! Era óbvio o tom hipebólico do perfil. Alguns risos desenquadrados denunciavam-nos perante a plateia que assistia, apática e inferior, aparentemente. Sim, eram de aparências contaminadas que iamos jogando, num malibarismo calculado à luz do improviso e do ridículo! Estavamos sete pés acima da minoridade, do pacato e simplório. Queriamos ser seres omnipotentemente inatingíveis. Descobrimos o gozo que nos dava ser o que nunca visionávamos pintar antes. Mascarávamo-nos por detrás de contactos, jantares alimentados pela influência, propriedades plantadas pelo planeta, edificados num estatuto altivo simplesmente porque podiamos conspirar magnificiência, durante alguns minutos, 40 minutos, mais ou menos... ]

[ Eu posso ser o que quero! E neste caso, um heroi de posse e postura. ]

[ Lembro-me dum Osvaldo, ao canto, a ser o que provavelmente não era, num mundo onde possivelmente jamais se recordará ter existido. ]

sexta-feira, 5 de março de 2010

Levo a Ribalta, Desligada



[ Não há quem não queira ser visto, mesmo não querendo protagonismo! Repara! Não vamos colecçionando troféus, estantes de pó, perfeitas conquistas dum pedestral diluido. Há calor então permanece alma nos promenores. Tomo a liberdade da focagem de segundo plano, mesmo terceiro, só para dizer que actuo sem intervenção e busco inclusão. Ok! Incorporo-me num corpo sem juízo, sem razão, na ponta do cano, sem saída. Credo, que imagem mais maligna e depressiva! Deixa-me reajustar as perspectivas, mudar a lente, focar outro plano...e deixar que a palavra ACÇÃO nasça no vento.
Admito, sou um incompreensível naufrágio, quando me vejo projectado no espelho nítido. Consigo é encobrir isso, quase, muito bem, vou achando eu... ]

Lã nos Dedos



[ Por estes últimos dias, que representam outro fim, tenho recebido saudações de todos os ângulos obtusos que consigo enumerar. Vou me equilibrando entre o que desejo não ser e o que desejo ter, de volta! Esfrego o relógio por não ter uma lâmpada mágica, estendido sobre esta cama abandonada, vapores a embaciarem os kilómetros e ouço um assobio...aqui! Existe a certeza de saber que nunca seria tarefa sólida este lidar emotivo, prego para estes peixes do silêncio submerso e respiro só quando sei que há luz, sem sombra. Quando adormeço embrulhado na angústia e no desconsôlo ansioso, nu de ti, intermitências aproximam-nos, aos poucos...aos poucos e poucos...]

[ Depois da vida terrena, vêm a vida eterna,
onde os transcendentes iluminam os crentes cá na terra! ]

quinta-feira, 4 de março de 2010

O Desgaste do Útil

[ Parece que por onde ando há uma coreografia ensaiada onde não me consigo encaixar. Troco os membros e vendo me ao sentir atrapalhado que me coordena epiletricamente! Parece que tudo passa por entre os dedos húmidos, reumáticos, estendidos, sem sequer insinuar o suspiro que me dá...]