sábado, 3 de julho de 2010

Chá



[ Derreti-me com o calor do ocioso! Dilui-me em múltipos momentos de desordem e redundância, bastardo. Agora sento-me no passeio parcialmente húmido, à espera que o autocarro mudo me apanhe. Sei que ainda não passou, certifiquei-me que estava imóvel aqui com 10 minutos para sobrar, descalço e já desapegado da pele!
Foi mesmo necessário fugir da perseguição da preguiça. Mesmo! Ainda vou passando os dias em reabilitação, com a ressaca agravada por esta imensa fraqueza acomodada. Débil, sim, é isso... Existo dentro duma maratona circular! Corro por um fôlego de oxigênio atmosférico. Sempre foi o melhor comprimido que podia tomar ao acordar. E tu? E tu hein?hein?!...também tomavas sistemáticamente aquelas doses absurdas de ego e ânimo que te obrigavam a passar noites em salas de urgência, naqueles corredores de cores difusas, ligado ao soro quente do desespero?! Algumas foram as vezes que nos encontravamos nesse ambiente apagado, alias, foi o que nos alojou quando nos conhecemos! Mesmo para além de estarmos na mesma circunstância, no exacto mesmo estado demente de moleza, sempre foste bem mais consistente que eu, mais sólido... Como tinhamos pouco para fazer durante as infinitas esperas cronometradas, tornaste-te meu terapeuta. Ambos sabiamos, académicamente, que tu precisas dum corpo para subsistir e eu dum espírito para subsistir depois de tudo acabar!...
Mas a conversa terá que ficar aqui neste envelope amarelo que vou fechar temporáriamente e esconder ali numa fresta amena debaixo do banco da paragem.O autocarro está ao fundo da rua e não chegaria a rua para atingir o fim deste diálogo aberto. Costumamos pausar as nossas conversa com constantes divergências e tensões, mas enfim... tenho mesmo que ir que o Sr. D, o motorista, é pouco tolerante...
Ahhh e deixa-me que te diga que não sei quando voltarei a apanhar o autocarro a esta hora... ]


[ Ficas com o meu sentido de humor amargo, para me devolveres quando nos cruzarmos ]

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