quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Transcênde Amanha


[ Acreditava na alta fidelidade que desconhecia! Sintonizava, sonâmbulo, o televisor tímido, do mesmo sofá de ontem. Mergulhava-se numa mentira que teimava em reviver em loop...rebobinando roboticamente até
inventar-se pela última vez. Dizia às pessoas, que nunca vira, do quão preferia perfurar nas profundezas dum sono leve, com um olho aberto para o passado. Agora lembra-se das vezes que mentalizava-se de que o mundo não era mais que um intervalo prolongado entre duas séries sérias...a mortalidade e a imortalidade...
Daqui, a sala continua com aquele mesmo ar arrumado do comodismo! Entregue ao abandono para que nada falte, com a poeira a querer fazer-se pesar em nome do presente. Todos os dias a mesma mobilidade morta! Dá-lhe mais prazer pendurar-se nas fotografias para reatear a acendalha da memoria desfocada que deixou na mesa de cabeçeira. Convence-se que não se vence com um só disparo... Deita-se no colo nostálgico do que perdeu e aguarda...até que volta a entrar na sala-de-estar da semana passada! ]
[ Ele uma vez escreveu meticulosamente a sensação de ter estado num espaço sem estado ]

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Dormia,se...



[Passou me vezes demais a mesma ideia de te ter ao partir enquanto te queria perder para sempre ao chegares! Sim, pronto confessei! É que sabes, só se consegue mascarar algumas coisas, e mesmos essas só até um certo ponto, e até a tentar fugir da norma, sabia que a minha discoordenação motora só me levaria para mais perto de ti. Fecho e abro, e fecho e abro a mesma janela para o interior só para ir descobrindo a cada gesto que só me estou a ver no espelho picado do meu presentemente...e aí chegas! E voltas a chegar como só tu sabes, barulhento e imponente, deixando me com a garantia que estás cá para morar, com a tua mão já morta na minha...
Tantas foram aquelas alturas que só te conhecia a meia distancia, algures entre duas linhas paralelas e um encontro marcado no infinito. Não digo que seja bom ter te como sombra, é que... oh, é bem melhor não te ter sequer e muito menos a seguir-me doentiamente. É isso mesmo! Doente já eu estou, e todos os outros eu's que vão sobrevivendo à vida. Basta me a ideia de ter de te respirar contrariado, quanto mais medicar-me contra o que sei nunca ter sido. Consegues mesmo invadir me até eu me desfazer pelas costuras do desânimo! Consegues tudo que queres quando me esvazias da motivação, agora mecânica, que me move...nasces dum buraco que não encontro e ficas...
E, agora que partes, até entretanto, levas-me outra vez contigo, deixando me aqui a observar nos a dissipar no amanha! E como é que achas que me pareço assim, de mãos dadas com a vontade desfigurada que também levaste? Achas justo descartar-me de mim, outra vez?! Acreditas na violência deste comodismo?! Acreditas que me vá tornar mais sólido, tão simplesmente?! Definitivamente não é que me faças falta sequer...o que me faz falta é ter te no 'corpo' de antigamente... ]