quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Visto-me de Vento

[ A chuva caía à porta da morte. Cada dia mais constante, cada vez mais presente. Acordava-te durante o sono que arquitectavas nos intervalos. Os relâmpagos mostravam-te o fogo de vista que o dia te guardava. Odiavas sempre que te relembrassem de existir! A chuva continua a bater-te na janela da alma, mesmo sabendo que preferes passar o tempo na tempestade dos teus pensamentos precários. Ficas ali enquanto tudo se projecta lá fora. Ignoras as visitas que te trazem as boas-vindas todas as manhãs...
  Um dia a morte abre-lhe a porta de vez. Ela é assim, imprevisível e ao mesmo tempo previsível por isso! Sabe que sabemos mais dela do que ela julga mas brinca com a nossa insegurança até soprar o vento de vida pela ultima vez. É a única forma de saber se estamos em casa ou não! É esperar pelo nosso desespero até nos encharcar de tremores! São as tempestades do teu sono.
  Entrámos na imensidão das tuas muralhas, onde a chuva nasce para nos matar. Sem medo de molhar a miséria, olhamos para tudo que tens inventado. As poças poeirentas mais parecem pequenas partículas de prazer! Acho que lavas a consciência com falsas verdades. Digo-te isto vezes sem conta mas acreditas sempre no cair coreografado da chuva. Agarras-te à substancia sofrida para sofrer menos até sofreres mais. 

  Deixa que a morte fique com a chuva e respira de alívio!
  
  A chuva deixou a morte em paz. Não conseguiu lavar o escuro nem ficar com as nódoas. A morte passa os dias à varanda a convencer o vento volátil dum qualquer plano perfeito! Tu voltaste a dormir sozinha, como sempre sonhaste e o teu ódio foi morar na miséria. Achas que algum dia vais conseguir baloiçar na bonança das boas-vindas? As manhãs podem ser doutra chuva, se as tempestades morrerem no teu sono. Sempre existiu algo maior do lado de fora. Sempre existiu a tua existência! A existência onde nem a morte, nem a chuva, conseguem estar...

 Recria, sem precipitares, até caíres no teu encaixe... ]


[ Tudo que cai é morte. Tudo que sobe é acreditar. Tudo que se sente está no estar. ]

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